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Sou jornalista, com registro profissional desde 1995, e professor de História, com mestrado, desde 1986.
Sou graduado em Brasília (DF), onde vivi a maior parte da minha vida. No Acre, vivi de 1993 a março de 2009, atuando como professor em diversas instituições de ensimo médio e superior e na maioria dos veículos de comunicação, exercendo as funções de locutor, apresentador, repórter e chefe de redação. Atualmente resido em Catalão (GO), minha terra natal, e trabalho como jornalista free lancer.
Este blog foi criado preferencialmente para minhas elocubrações jornalísticas e literárias, sobretudo, as crônicas, estilo que aprecio e que vejo como forma concreta de manifestar, como diria o pensador Ortega Y Gasset, o meu eu, minha circunstância e meu tempo.

Atendimento bancário, em Catalão, precisa ser revisto e melhorado

sexta-feira, 19 de junho de 2009

No final do ano passado, depois que o Itaú e o Unibanco uniram suas operações e, a partir daí tornaram-se um dos 20 maiores conglomerados financeiros do mundo, o Banco do Brasil perdeu o posto de maior instituição financeira do Hemisfério Sul. Apesar disto, por desempenhar importante papel social e – ao contrário da maioria dos bancos privados - estar presente em quase todos os 5.565 municípios do país, ele continua sendo o principal banco para a maioria dos brasileiros.
De acordo com o Banco Central, depois de adquirir o banco estadual paulista Nossa Caixa, em 2008, o BB atingiu o patamar de R$ 457,4 bilhões em movimentações financeiras. Um lucro extraordinário que, apesar da crise econômica mundial, deve elevar ainda mais o faturamento da instituição este ano. Mas, ao que tudo indica, está muito mais comprometido com a rentabilidade das aplicações do que com o aprimoramento do relacionamento com o cliente, sua razão de existir.
Se uma pequena, média empresa e todos os segmentos do ramo de negócios se desdobram para atrair novos parceiros e se esforçam ao máximo para mantê-los, parece contra-senso o BB insistir em ignorá-los. Talvez esteja aí a explicação para a perda do topo do ranking. O que acontece na agência catalana da instituição é um triste mosaico da qualidade do atendimento que ela dispensa à maioria de seus clientes por todo o país.
SAE como exemplo - Enquanto o município avança, conquista normas técnicas e proporciona grau de satisfação aos clientes que lhe confere o modelo de gestão de qualidade ISO 9001 para a prestação do serviço de água e esgoto, o Banco do Brasil retrocede. Diante dos caixas, no primeiro andar da agência local, o aglomerado de pessoas e as filas que se formam no horário comercial são comparáveis ao atendimento das delegacias e hospitais públicos dos grandes centros urbanos brasileiros e de outros países considerados do terceiro mundo.
O tormento começa com a falta de estacionamento, passa pela sufocante porta giratória, pelas escadas de acesso ao primeiro piso que não facilitam a vida de ninguém, principalmente de cadeirantes e, finalmente, pelos longos minutos e intermináveis horas de espera nas filas, às vezes, para simples desconto de um cheque. No início e finais de semana, o tempo médio de espera é de uma hora e, às vezes, até de uma hora e meia.
Como medida paliativa, para minimizar o caos no relacionamento banco/cliente, a gerência decidiu que os três únicos guichês existentes fossem destinados distintamente entre as seguintes categorias: idosos/gestantes; aos clientes com até dois tipos de transações bancárias; e aos com mais de três (empresas). A medida é inócua porque não resolve a situação. O tratamento dispensado é subumano. Para suportar a cansativa espera, idosos encostam-se às paredes, as gestantes mudam a todo o momento de posição para suportar o peso da barriga e os office-boys das empresas, sem a menor cerimônia, sentam-se no chão. Enquanto isso, na fila dos “normais” o que se ouve é só reclamação.
Para a maioria da clientela, é inadmissível que o BB tenha mais de 110 mil funcionários em suas agências e não remaneje para os caixas um número suficiente deles para prestarem um atendimento minimamente satisfatório para a clientela de uma das maiores instituições bancárias do mundo. “É horrível isto aqui, pouco caixa para atender muita gente. Perdi quase toda minha manhã aqui no banco”, conta o funcionário público Luis Antonio Pereira.
Lei das Filas existe, mas não é cumprida - Em Catalão, esse desrespeito ao cidadão já deveria ter terminado desde 1998. Naquele ano, o então vereador Jorge Silveira (PDT) apresentou um projeto e conseguiu que o Poder Executivo sancionasse a chamada Lei das Filas, que determina que o tempo de espera para atendimento nos guichês fosse, no máximo, de 25 minutos em dias normais e de 30’ para dias de pagamento do grosso do funcionalismo público e em dias que antecedessem feriados.
Em 2006, o vereador Emival Mamed (PCdoB) apresentou um projeto substitutivo ao de seu colega em razão da polêmica discordância judicial que havia sobre a questão. Naquela época, como até recentemente, a Justiça entendia que o município não poderia legislar quanto ao atendimento das instituições financeiras e que essa atribuição seria do Banco Central. Os dois projetos caducaram porque nenhum deles previu a utilização de detectores de metal e nem impediu o uso de capacete dentro das agências, objetos que estão relacionados ao aspecto segurança.
Os dois projetos de lei deram visibilidade a muitos políticos e autoridades, mas nunca solucionaram o caos do atendimento não apenas por parte do Banco do Brasil, mas também pelas demais instituições bancárias em Catalão. Para muitos, a senha com hora marcada distribuída pela Caixa Econômica é um engodo e resolve apenas em parte a crise do atendimento.
A atuação do Procon - Outro fator comprometedor do não cumprimento da chamada Lei das Filas foi a falta de atuação determinada do Procon, o órgão de defesa do consumidor. Pelo projeto do vereador Emival Mamed, a fiscalização do cumprimento da Lei ficaria a cargo daquele órgão, mas, em razão da falta de jurisprudência em torno da questão e também da recente e incompleta estruturação do Procon, isso não vem acontecendo. Atualmente, o órgão conta com apenas dois fiscais.
O coordenador do Procon, Mário Caixeta, informou que, em maio, enviou ofício-circular para todas as agências bancárias de Catalão pedindo o cumprimento da Lei 2424/06 e que somente a Caixa pediu tempo para se adequar ao atendimento das agências lotéricas. Ele disse ainda que a fiscalização nos estabelecimento bancários só voltará a ocorrer depois que as blitze nas mercearias e supermercados terminarem. O coordenador não informou, no entanto, porque não afixou em local visível das agências cópia da Lei das Filas contendo todos seus artigos que prevêem, inclusive, multa de 5000 Ufir’s e o dobro em caso de reincidência.
Admitindo que o atendimento na agência é precário, o gerente geral do Banco do Brasil em Catalão, Agnaldo Queiróz, disse que, para minimizar a situação, foram firmados mais de 20 contratos com os chamados correspondentes bancários e que, para fugir dos “horários de gargalos” os clientes devem procurar esses caixas eletrônicos ou utilizar com mais intensidade o serviço oferecido pela internet. Queiróz não aventou com a possibilidade de contratação de novos caixas porque, segundo ele, o Banco é uma sociedade de economia mista, que seus acionistas e nem o Ministério da Fazenda admitem essa hipótese. “Existem estudos sobre essa demanda. Somente depois que eles estiverem concluídos é que iremos analisar o caso, enquanto isso, a solução é recorrer aos terminais” disse.
Nesta semana, o vereador Jair Humberto (PDT) afirmou que, nos últimos 11 anos, todas as legislaturas discutiram a questão; que a Lei das Filas existe, mas que ela não vinha sendo cumprida também por falta de empenho popular. O desconhecimento da regra jurídica se deu, segundo o parlamentar, porque nem os bancos e nem o Procon tiveram a preocupação de divulgá-la conforme está previsto em seu bojo.
Jurisprudência sobre a questão - Jair Humberto garantiu ainda que as discussões sobre a competência de o município regulamentar ou não o atendimento bancário resultaram em um consenso há cerca de 20 dias, quando o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal) se manifestou publicamente sobre a questão, se posicionando favorável à intervenção municipal. O STJ (Superior Tribunal de Justiça), última instância da Justiça brasileira para causas infraconstitucionais (não relacionadas diretamente à Constituição), também já havia apreciado causa semelhante do Sindicato dos Bancários do Distrito Federal e, assim como a Corte superior, se posicionou favorável. “Estávamos aguardando essa decisão”, disse o vereador.
Além da revisão da Lei que dispõe sobre o tempo de permanência nas filas nos estabelecimentos bancários, o parlamentar garante que vai propor substitutivo revendo os artigos que tratam da disponibilização de sanitários, bebedouros, assentos aos clientes e rampas de acesso adequadas para portadores de necessidades especiais. Alegando falta de tempo pelo fato de ser presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara Municipal, Jair Humberto disse que vai levar a discussão ao plenário somente depois do final do recesso daquele parlamento que, segundo o regimento interno, só deve acontecer no início de agosto.
Apesar de saber que esse rito já foi cumprido, a retomada das discussões sobre a Lei das Filas na Câmara Municipal é salutar. Se ela foi sancionada e não funciona deve ser revista. Afinal, leis são resultantes dos costumes de uma sociedade. Por outro lado, devemos lembrar que a retomada do debate pode ser encabeçada, mas que não deve ser conduzida por um único vereador e sim com a participação de todas as bancadas que compõem o parlamento municipal. Para que a próxima lei tenha legitimidade será imprescindível também o envolvimento de todos os segmentos da sociedade. Ao povo caberá participação durante as discussões do novo projeto de lei e, principalmente, maior fiscalização de sua aplicação. O Procon também deve ser melhor estruturado, pois, somente com instituições fortes é que teremos uma democracia solidificada.

*Cleber Borges é jornalista, professor e goiano, de Catalão, que está retomando a vida em sua cidade natal.

Decisões também se mudam

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Em 2006, recém saído do turbilhão de uma separação, decidi por fim a uma longa, profícua e gratificante profissão: a de professor. Além de cansado do sacerdócio, naquele momento, havia uma discussão nacional sobre o verdadeiro papel do professor. Debatia-se se a função é de educador, psicólogo, baby sitter ou pai/mãe substituto.
A expressão tio/tia, por exemplo, que se consolidou nas últimas décadas entre alunos da pré-escola e do ensino fundamental, passou a ser questionada porque o professor estava abandonando sua verdadeira função para desempenhar papel de alguém da família.
Desde que me formei , na década de 80, sempre ministrei aulas para estudantes do ensino médio, de pré-vestibulares, cursos profissionalizantes, preparatório para concursos e até nível superior, mas, até aquele ano, nunca para os do ensino fundamental. Em 2005, no entanto, pela primeira vez “dei” aula para “aborrecentes” da 7ª e 8ª séries.
Foi uma loucura. Com o estado de nervo abalado, para não perder a calma com alguns alunos indisciplinados, resolvi “chutar o pau da barraca”. Na época, escrevi o artigo Sala de Aula, To Fora! Fiquei mais tranqüilo depois disso, principalmente pelos inúmeros e-mails que recebi de colegas de profissão.
Nos últimos três anos, decidi me dedicar mais ao jornalismo, atividade que exerço há 16 anos. Mas, neste período, nunca esqueci a sala de aula, espaço onde é possível repassar o recado da forma mais direta e contundente e analisar, instantaneamente, o feed-back.
Nesta semana, para minha felicidade, reencontrei um simpático e falante jovem de 17 anos que me induziu a repensar minha drástica decisão de abandonar a Educação. Ele disse: “Você se lembra de mim. Sou o Ricardo, aquele seu aluno “barra pesada” da escola Dr. Mário de Oliveira. Pois é, professor. Hoje estou fazendo Agronomia e devo isso ao seu estímulo. Ninguém, com exceção de você acredita no meu potencial. Gostei muito de suas aulas de suas aulas de História, tomei gosto pela leitura e por isso, acho que fiz uma excelente prova de vestibular.
Com essa rica e estimulante conversa, decidi voltar à sala de aula. Desde então tenho pensado muito no quanto uma boa atitude e uma simples conversa pode mudar o rumo das nossas vidas.

O mal feito aqui pode repercutir lá, e vice-versa

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Catástrofes: castigo Divino, mero acaso da natureza ou obra do homem? Geralmente, durante as viradas dos séculos surgem especulações sobre essas coisas e a respeito do fim do mundo. De fato, nessas ocasiões, a humanidade sempre se imbuiu de um sentimento místico em busca de explicações sobrenaturais para o que se considera inexplicável.
Recentemente passamos por essa transição de século. Como das vezes anteriores, o homem voltou-se a dar atenção ao seu lado místico, de magia, recorrendo aos búzios, tarot, mandalas e outros meios de “desvendar” o futuro. Seria um jogo de sorte ou azar? Nesta semana, assistimos, bestializados, a tromba d´água que caiu em Santa Catarina. Vimos a fúria da natureza que devastou parte significativa daquele Estado.
Sabemos que as catástrofes surgem a qualquer momento e em lugares considerados até inatingíveis. Até o século XVIII e mesmo depois dele, prevaleceu a idéia segundo a qual esses acontecimentos são castigos de Deus. Foi o filósofo iluminista Voltaire que começou a desmistificar essa hipótese. A propósito, é célebre sua citação sobre a existência de Deus, quando disse: “Não posso imaginar um relógio sem o relojoeiro”. Não desdizendo a existência de uma Força Superior, Voltaire creditava ao poder humano a grande força que pode mover o mundo.
E é assim. A força do homem pode modificar o meio em que vive. O homem constrói hidrelétricas capazes de produzir energia que, por sua vez, é transformada em bem-estar e conforto para a humanidade. Esta é uma modificação positiva. Ocorre que, o mesmo homem que constrói também destrói, prejudicando a natureza, devastando, ocasionando mudanças climáticas. Talvez o que tenha acontecido em Santa Catarina possa ser mero acaso da natureza. Ou talvez seja uma resposta da natureza ao mal que o homem está lhe causando.
Em nosso Estado mesmo, e na Amazônia em geral, estamos presenciando algo semelhante, estamos vendo a insensatez humana prevalecer. Em plena Reserva Extrativista Chico Mendes, a primeira a ser implantada no país, a mata está dando lugar a pastagens de bois. De alguma forma, a devastação repercute não apenas na região, mas provoca alterações climáticas que atingem também outros lugares, próximos ou distantes.
As ações do homem que são prejudiciais à natureza podem e devem ser refreadas. Ainda há tempo. Devemos coibi-las para o bem das futuras gerações e para que essas catástrofes não se voltem contra nós, no futuro ou agora.

Chico Mendes, uma história de luta e glória em defesa da Amazônia

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Chico Mendes, uma história de luta e glória em defesa da Amazônia

Cleber Borges

Nestes 28 dias que antecedem 22 de dezembro, o fatídico dia em que o líder sindical e ambientalista Chico Mendes foi assassinado a mando do fazendeiro Darli Alves, que em nome dos devastadores da selva amazônica não o queriam como empecilho, Ilzamar Gadelha Bezerra Mendes (43), a viúva, e Elenira Mendes (24), filha de Chico Mendes, aproveitaram um intervalo de trabalho no escritório de Rio Branco do Instituto Chico Mendes para relembrar os ricos, mas curtos momentos de convivência familiar que, ao lado do filho caçula Sandino Mendes (22), tiveram com a maior “lenda” da história acreana.
Ilzamar deixou a direção da Fundação Chico Mendes, em Xapuri, para ajudar a filha a “fechar” a vasta programação de atividades que a Fundação, o Instituto, o Comitê, os governos Federal, estadual e municipal, ong´s e outras instituições nacionais e estrangeiras irão promover, nos próximos dias, em homenagem ao ambientalista.
Dentre os eventos programados consta a realização de uma sessão do Ministério da Justiça, em Rio Branco, para julgamento da anistia póstuma do sindicalista. Também há previsão de que o presidente Lula faça um pronunciamento em cadeia nacional, direito de Xapuri, no mesmo horário do assassinato de Chico Mendes. Se não for possível, esse pronunciamento deverá ser feito diretamente de Brasília.

Além de ambientalista, Chico também se mostrou um educador
Ilzamar começou narrando a história de sua pobre infância no seringal Santa Fé, colocação Morada Nova, distante cerca de 50 km da sede do município de Xapuri, local onde ela e sete irmãos nasceram e foram criados. Ela conta que, até 18 anos atrás, antes de transformarem o seringal em fazenda, a família dela ainda morava naquela localidade, onde, aos 6 anos, conheceu Chico Mendes.
Segundo a viúva, Chico foi trabalhar com os pais dela, Joaquim Moacir Bezerra e Luiza Gadelha Bezerra, na condição de meeiro. Além das virtudes de homem combativo e envolvido com as questões ambientais, ela conta que o ex-marido tinha uma virtude a mais, pouca difundida: era preocupado com a escolarização de quem vivia na mata, sobretudo das crianças.
Todas as vezes que ia para as “estradas” de seringa, Chico deixava uma lição para ela e os irmãos estudarem. Quando ele voltava no fim do dia, cobrava a tarefa. A intenção, segundo Ilzamar, não era só ensinar a ler, mas a fazer contas. Ele acreditava que, assim, os patrões não iriam roubar no peso e nem no preço da borracha. “O ensinamento já vinha imbuído de política, de defesa do meio ambiente, de direito de igualdade a todos. Tudo isto ele já trouxe de berço”, diz.
Chico debatia a questão da exploração do homem pelo homem desde adolescente. Na época, ele discutia com o pai de Ilzamar a idéia de fundar um sindicato. Decidido a fazer isso, depois de se tornar vereador eleito pelo PMDB e cumprir o mandato, ele foi para Brasiléia, onde se juntou com Ilson Pinheiro para ajudá-lo nos conflitos de terras que havia naquele município fronteiriço. Depois de ajudar a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ele continuou em Brasiléia por dois anos.
Na volta à Xapuri, ele continuou no trabalho de politização das comunidades. Insuflado por Chico Mendes, Joaquim Moacir entrou em rota de colisão com o seringalista Guilherme Lopes, dono do seringal Santa Fé, onde eles moravam. Depois de tomarem consciência de que estava sendo vilipendiado, o pai de Ilzamar começou a vender a produção de borracha a outros seringalistas. Ele queria acabar com a eterna relação de dependência que havia entre patrão e empregado. Queria parar de vender a produção e continuar devendo. No instante em que passou receber melhor remuneração pelo que produzia, começou a sobrar dinheiro. “Só depois disso é que minha mãe pôde comprar um remédio, uma sandalinha”, diz Ilzamar, lembrando da infância pobre que teve.
Projeto Poronga foi criado por Chico Mendes
Quando Chico Mendes volta à Xapuri, Ilzamar já havia completado 15 anos, vinte a menos que ele. Apesar de terem convido durante anos, o romance entre os dois começou a partir desse momento, segundo ela, com rápidos e lânguidos olhares. Percebendo a aproximação diferenciada, Luiza Gadelha – a mãe – não dava trégua. Essa situação, segundo Ilzamar, durou cerca de um ano e meio até que Chico resolveu “pedir a mão da moça” para namorar.
Eles se casaram em 1980, quando ela tinha 17 anos. A cerimônia no civil aconteceu em Brasiléia. Logo depois, eles foram morar em Xapuri, na casa de um primo de Chico Mendes. “Casei por amor. Apesar de ser, na época, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ele não tinha nenhuma condição”, conta a ex-mulher do presidente do Sindicato mais forte do Estado do Acre.
Apesar da fragilidade da estrutura, a entidade mostrava força pelo número de filiados. Ilzamar conta que, para juntar os quatro mil associados, a assembléia tinha que ser realizada no salão paroquial. Chico fundou e dirigiu o sindicato até 1988, ano em que foi assassinado.
No período em que permaneceu como dirigente do sindicato, Chico Mendes obteve grandes conquistas. Sob orientação dele, a entidade criou o CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros), o CTA (Centro dos Trabalhadores da Amazônia), algumas cooperativas e, apesar do pouco apoio das autoridades constituídas, ajudou também a fundar várias escolas e 18 postos de saúde no perímetro urbano e rural.
O projeto Poronga de alfabetização de jovens e adultos, que hoje apresenta excelentes resultados, também foi criação de Chico Mendes. “Quando conseguia realizar alguma coisa em benefício das comunidades, os olhos do Chico chegavam a brilhar”, diz Ilzamar. Assim como o ex-governador Jorge Viana lamentou o fato de Chico não ter vivido para presenciar o êxito da Frente Popular, Ilzamar também lastima o fato dele não ter assistido a criação das reservas extrativistas, um sonho que ele acalentava há anos. Ironicamente, a primeira delas surgiu exatamente em 1988, no ano de sua morte. A reserva Chico Mendes possui mais de um milhão de hectares. “A maioria das autoridades, tanto federal como estaduais, era contra a idéia naquela época. Depois que o Chico perdeu a vida, quase todos apareceram apoiando a idéia que, finalmente, foi concretizada através de decreto”, critica a viúva.

Tempo para a família era reduzido, mas intenso
Chico Mendes tinha pouco tempo para a família, mas, segundo a viúva, era extremamente dedicado. Ela afirma que ele vivia se justificando, dizendo que não fazia mais porque tinha uma missão na vida, que era o trabalho em prol dos menos favorecidos. “Sete dias antes de morrer, ele disse que aquele seria o último aniversário que a família passaria junta. Então eu disse: por que você não abandona tudo? Temos que criar nossos filhos. Ele disse: tenho uma missão importante para nossos filhos e toda uma geração”.
Ilzamar diz também que, na época, tinha consciência do quanto ela era politizada, mas, mais do que isso, tinha o compromisso de ser uma grande mulher ao lado de uma liderança nata que era seu marido. “Com o Chico tive momentos bons e momentos difíceis. Era comigo que ele desabafava, era para mim que ele contava a pressão que sofria. Vi e convivi com tudo isso que aconteceu”, diz.
Ela conta que, depois da morte do marido, além da ajuda que a instituição internacional Ashoca havia concedido a ele por ter conseguido destaque como empreendedor ambiental, a família só veio receber apoio em 2000, no segundo ano do mandato do ex-governador Jorge Viana. Através de convênio firmado com a Fundação Chico Mendes, o Estado concedeu uma bolsa de estudos para os filhos Elenira e Sandino Mendes.

22 de dezembro, o dia do assassinato
Às vésperas de morrer, Chico Mendes já era um homem público, reconhecido e com muitos compromissos no Acre, fora do Estado e do país. A mulher dele conta que, de forma inexplicável, no dia da morte dele, parecia que havia uma premonição. “Foi o dia em que ele se dedicou inteiramente à família”, diz ela.
A mulher conta que ele acordou cedo naquele dia, tomou café, pegou os filhos, os colocou dentro de um caminhão novo que havia comprado e foi passear pela cidade. O primeiro local que decidiu parar foi na sede do Sindicato. Depois, ele voltou várias vezes em casa. “Ele chegou cedo para almoçar. Ele mesmo colocou comida para a Elenira e almoçou com o Sandino. Depois, antes de estender um pano e deitar no assoalho, ele teve uma conversa com minha filha que marcou muito, para sempre”, diz.
Chico perguntou para a filhinha, de apenas 4 anos: o que você faria se eu morresse? A Elenira começou a chorar. Ilzamar presenciou essa conversa, segundo ela, com a sensação de que tinha pela frente o compromisso de cuidar só da criação e da educação dela e de Sandino.
Depois dessa conversa e do descanso, Chico saiu novamente com as crianças numa peregrinação que denotava mesmo uma despedida. Primeiro, ele fez uma visita ao hospital, conversou com as freiras e, depois, foi à casa do João Garrinha, um amigo dileto. Mais no final da tarde, voltou ao sindicato, se despediu de todo mundo e voltou para casa pela última vez.
Lá, sentou-se à mesa, convidou os dois policiais que faziam a segurança dele para jogar dominó. Por volta das 18h30, Ilzamar interrompeu o jogo, convidando o marido e os militares para jantarem porque ela queria assistir ao último capítulo da novela Vale Tudo. Chico pediu uma toalha, a colocou no ombro dele com o filho caçula nos braços e ameaçou ir em direção ao banheiro, que ficava do lado de fora. Preocupada com o risco de um resfriado, Ilzamar sugeriu que a criança ficasse.
Ela pegou o menino nos braços e voltou em direção ao corredor do quarto quando ouviu o estampido. Naquele momento, a cozinha ficou tomada de fumaça branca. Chico caiu com um tiro no peito. Agachada, Ilzamar retirou a toalha e viu o sangue jorrar pelo corpo do marido. Ele ainda chamou por Elenira tentando lhe repassar alguma mensagem antes do último suspiro.
Os policiais foram destacados para dar proteção ao líder sindicalista porque ele vinha sendo ameaçado de morte pelos fazendeiros da região. Um mês antes, Chico estava sendo protegido pelos colegas do Sindicato. Por determinação do juiz de Xapuri, a metralhadora que estava de posse dos militares foi substituída por um revólver que, segundo foi apurado na época, não funcionava. Passados 20 anos, aliado ao unânime pensamento dos acreanos, Ilzamar acha que os policiais falharam na missão atribuída a eles.

Elenira Mendes ficou com o legado do pai
Questionada se todo esse frisson em torno da celebração dos 20 anos do desaparecimento do líder ambientalista não deve passar e, em breve, cair no esquecimento, de forma taxativa, Elenira Mendes diz que não. Ela afirma que o legado de Chico Mendes agora pertence ao mundo inteiro.
“A discussão sobre as mudanças climáticas, desenvolvimento auto-sustentável sempre irá nos remeter a Chico Mendes. Antes do surgimento dos ambientalistas de plantão, ele já falava disso há mais de 20 anos. É impossível esse legado morrer”, disse ontem Elenira Mendes, presidente do Instituto Chico Mendes, entidade criada com o propósito de dar continuidade ao trabalho do pai dela.
“Esse compromisso eu tenho. Vou continuar o trabalho do meu pai, principalmente, junto aos jovens. Eles são o futuro desta nação. Se a gente conseguir isso, vou fazer uma análise bastante positiva desta nossa luta”, disse.
Ilzamar Gadelha conseguiu o que havia prometido, de forma silenciosa, para Chico Mendes: formar e encaminhar a filha na vida. Além de presidir o Instituto que leva o nome do pai, Elenira Mendes terminou o curso superior de Administração e fez pós-graduação em Gestão de Recursos Ambientais. Em 2009, depois da intensa agenda de trabalho deste ano, ela pretende dar seqüência aos estudos partindo para um mestrado na área de formação e, futuramente, um doutorado.
“Para auxiliar nas questões de aspecto legal também quero fazer o curso de Direito, mas, principalmente, para realizar o sonho que meu pai tinha que era me ver formada nessa área”, diz Elenira Mendes.





Dentre os eventos programados consta a realização de uma sessão especial da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, em Rio Branco, para decidir sobre o processo de anistia do sindicalista. Há também proposta para que o presidente Lula faça um pronunciamento em rede nacional, em Xapuri, no horário que ocorreu o assassinato de Chico Mendes. Se não for possível, esse pronunciamento deverá ser feito de Brasília. Dentre os eventos programados consta a realização de uma sessão especial da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, em Rio Branco, para decidir sobre o processo de anistia de Chico Mendes. Também está previsto um pronunciamento do presidente Lula que deverá ser feito em rede nacional, em Xapuri, no horário que ocorreu o assassinato do sindicalista. Se não for possível, esse pronunciamento deverá ser feito de Brasília

impressões de um viajante

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Como diria o maior escritor da língua portuguesa, Luis de Camões, navegar é preciso. No Renascimento, ele dizia isto como forma de estímulo para que os navegantes descobrissem novos mares. Cá, na minha insignificância, também acredito que navegar, viajar, significa, no mínimo, sair da rotina. Esta semana fiz isto. Saí ontem rumo ao Jordão, na divisa do Peru, município que dista – em linha reta - 451 km de Rio Branco. Viajei numa aeronave Sêneca, bimotor, seis poltronas. A emoção foi grande. Há tempos não viajava num avião pequeno.
Sobrevoar é interessante, principalmente na nossa região. Só a bordo de um avião é possível ver a imensidão da Amazônia. Em 1 hora e 40 minutos de viagem, pelo menos 1 ½ sobrevoamos sobre a selva sem ver nenhuma “picada” ou vestígio do ser humano. De cima, a visão é privilegiada. Do alto, dá pra ver que, depois de mais de 500 anos de descoberto, no Brasil ainda existem regiões totalmente intactas, lugares onde o homem jamais colocou os pés.
Pela janela, só se vê a profusão das tonalidades brancas das nuvens com o azul do céu. Olhando pra baixo, a monotonia da paisagem verde só é quebrada, de vez em quando, com a visão única dos sinuosos rios amazônicos. É curioso pensar que, há quinhentos anos, sem esse recurso fantástico da navegação aérea, os cartógrafos já delineavam, com precisão, os mapas, inclusive o da Amazônia. De cima, dá pra sentir porque a floresta é tão imprescindível para o clima do planeta.
O ziguezaguear dos rios remete a uma outra observação simples, mas exata. Os rios fazem curvas e mais curvas, mas nunca alteram a direção do curso da água. Nunca dão uma guinada de 90 graus. Elas não impedem que as águas dos rios corram sempre em direção ao mar. Na Amazônia, essas curvas não inviabilizam, mas tornam a navegação extremamente dispendiosa e cansativa. Por terra, de Rio Branco a Tarauacá são 381 km. Se a viagem for via fluvial, a distância é de mais de 6 mil quilômetros.
Esta viagem, por outro lado, está sendo muito interessante também porque, através dela, estive nos dois únicos dos 22 municípios acreanos que ainda faltava eu conhecer: Jordão e Santa Rosa do Purus. A bem da verdade não conheci Santa Rosa, mas sobrevoei baixo a pequena cidade, de onde pude perceber que ela não é muito diferente do Jordão, município que ostenta a maior taxa de analfabetismo – 60,7% da população com 15 anos ou mais – e que tem o segundo pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país e o menor de toda a região Norte.
Sem se preocupar com dados estatísticos de burocratas de gabinetes, durante a viagem, foi possível perceber que a maioria dos 6,3 mil habitantes do município – 40% de origem indígena – vive feliz, em harmonia com a floresta e com a vida. Essa felicidade em contagiou um pouco.

Filha do indigenista Meirelles denuncia invasão das terras dos índios isolados

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Se Brigitte Bardot não tivesse abandonado os palcos para se tornar uma ferrenha defensora dos animais, seria difícil acreditar que Paula Figueiredo Meirelles, uma mulher tão encantadora quanto a cantora e atriz francesa, tivesse deixado a vida agitada das cidades para tornar-se, há três anos, guardiã de “índios invisíveis”.
Paula Meirelles (32) é indigenista assim como o pai dela, José Carlos dos Reis Meirelles Jr. Ele trabalha há mais de 20 anos na Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira e ela no Posto de Vigilância e Fiscalização Foz do rio D´Oro, localizado no município de Jordão, próximo ao Peru e distante – em linha reta – 451 km da capital acreana. Ela trabalha para a Ong CTI (Centro de Trabalho Indigenista) com atuação na Funai (Fundação Nacional do Índio).
Nesta semana, depois de ciceronear durante um mês uma equipe inglesa da revista National Geographic, Paula Meirelles deixou a foz do D´Oro, desceu de voadeira até o município de Jordão pelo rio Tarauacá (8 horas de viagem) para resolver pendências de pagamento de fornecedores, burocracias da Funai e, principalmente, para denunciar, na delegacia local, as constantes invasões que caçadores e pescadores de uma comunidade próxima, e também do Jordão, vêm fazendo à reserva Terra Indígena Alto Rio Tarauacá.
Segundo a indigenista, por serem experientes e profundos conhecedores da região, eles saem do rio D´Oro e entram na igarapé Arara e, de lá, pescam e caçam na reserva dos índios arredios. Por esse mesmo motivo, há dez anos, eles trucidaram o filho de um grande seringalista da região. Paula afirma que foi para vingar a morte de um índio.
A reserva é protegida pela Constituição Federal e pelo artigo 161 do Código Penal. “Eles transgrediram a Lei e, por isso, quero que eles sejam enquadrados”, diz. Na delegacia, o APC José Ribamar Ayres da Silva diz que a indigenista tem que listar os nomes dos suspeitos e não apenas os apelidos, como foram denunciados.
Visivelmente insatisfeita, Paula Meirelles disse que ela e seus três comandados vão continuar na cidade para atender a exigência burocrática da Polícia Civil, mas protesta. “Aqui, quase ninguém é conhecido pelo nome. A polícia bem que poderia dispensar essa formalidade”, diz a guardiã dos índios, em cuja aldeia ela acredita viver entre 500 e 600 pessoas.
No Envira, Meirelles enfrenta outro tipo de problema
Enquanto a filha luta contra caçadores e pescadores no rio D´Oro, no rio Envira, o pai batalha pela proteção da reserva local contra madeireiros peruanos. Na semana passada, José Carlos Meirelles esteve em Lima, Peru, numa tentativa de convencer as autoridades daquele país a ajudarem a combater o contrabando de Mogno na fronteira com o Brasil.
Em abril, o trabalho do sertanista teve repercussão internacional a partir de um sobrevôo que ele fez na reserva onde Paula vive. Na companhia de uma equipe do Governo do Acre, ele foi fazer um estudo da situação dos índios isolados, para saber se, mais uma vez, eles tinham mudado a localização de sua maloca. Eles agem assim sempre que se sentem ameaçados. Diferente de outras nações indígenas, eles nunca se instalam às margens de rios.
Na rasante do avião, alguns índios atiraram flechas. Essa imagem foi captada pelo fotógrafo Gleison Miranda, da Assessoria de Comunicação do Governo do Acre. Depois que foram publicadas nos jornais locais, as imagens foram parar na revista digital Terra Magazine e, de lá, para vários sites, inclusive do exterior.

Reminiscências

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

As pessoas, em geral, gostam de falar de si próprias, de seus sonhos e realizações, mas nunca de seus “micos”. Aquelas que acreditam em reencarnação sempre dizem que foram reis, imperatrizes em outras eras e nunca escravos, serviçais, etc. Penso que isso é meio freudiano. É o alterego falando mais alto...
Por me sentir mais maduro nesta altura da vida e por não ser piegas, prefiro chamar minhas mancadas de gafe, isso mesmo, gafe, mas, à francesa. Cometi algumas como protagonista ou coadjuvante ao longo da vida, mas as que aconteceram na minha primeira das cinco vezes que fui ao Rio de Janeiro são inesquecíveis, hilariantes e impagáveis. Por isso, resolvi registrá-las para compartilhá-las com você.
A primeira aconteceu logo na chegada ao Rio, no meu primeiro contato com o mar. Vi parte daquela imensidão azul do início de uma rua transversal à Nossa Senhora de Copacabana, que fica paralelo à praia. A ilusão de ótica deu-me a sensação de que o mar estava invadindo a terra. Foi terrível.
O primeiro banho de mar também seria cômico se não tivesse sido trágico. Passei horas observando o movimento das ondas para ver o comportamento das pessoas e, só então resolvi sair correndo da areia para entrar na água. Cheguei no momento errado. O “caldo” resultou em joelhos esfolados e a barriga, nariz, olhos e ouvidos cheios de água salgada. Pra sair da água foi aquele sufoco. Estava totalmente grogue.
Outro drama foi vivido na volta para o hotel onde eu estava hospedado. Ao sair da praia perguntei para um malandro tipicamente carioca. Você sabe como eu faço para chegar ao bairro do Flamengo? Ele (com ar de deboche): “Lamento. Só amanhã, porque faltam 5 para as 5 horas e o túnel já fechou”. Na inocência, pureza e imbecilidade dos meus 17 anos acreditei e só fui me tocar que túneis não fecham depois de bastante tempo.
No dia seguinte, dentro de uma lanchonete grande, mas estreita, fui abordado efusivamente por uma pessoa que adentrava ao recinto. Antes de fazer qualquer manifesto à saudação, fiquei pensando: estou recém-chegado e não conheço ninguém aqui nesta cidade, portanto, quem será esse cidadão? Para não decepcioná-lo, resolvi levantar-me e, com um sorriso amarelo, aproximei-me para dar-lhe um abraço. Da forma mais grosseira possível, ele disse: dá licença companheiro, sai da frente porque quero falar com meu amigo aí que está atrás de você! Confesso: queria ser avestruz para colocar minha cabeça no primeiro buraco.
Bem, estas não foram as únicas gafes cometidas nessa viagem. Mas, as outras, você só ficará sabendo quando eu resolver contá-las num livro que estou pretendendo escrever com minhas adoráveis e, às vezes, cruéis reminiscências. Até.

Algumas mazelas desta cidade

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Como repórter, escrevo diariamente com o compromisso de ser fiel e o mais imparcial possível no relato dos fatos. De acordo com o Artigo 3º do Capítulo II (Da conduta profissional) do Código de Ética dos Jornalistas, tenho que levar em conta também que minha atividade tem grande responsabilidade social.
Partindo desta premissa, sinto-me na obrigação de denunciar certas mazelas da sociedade - que incomodam a maioria de seus integrantes -, mas que poderiam ser minimizadas com interesse e boa vontade de quem as promove. Um desses desserviços (denunciados por um colega jornalista e que resultou no pedido da “cabeça” dele) refere-se ao péssimo atendimento na portaria da Colônia Penal, seja ele prestado a profissionais ou a visitantes. Lá, se recorre à regra: dois pesos, duas medidas. Sem muito critério, uns entram e outros não.
Outra mazela se refere ao descaso das empresas telefônicas em relação às regiões mais pobres e distantes do país. Ao discar para o serviço de informações da companhia, no intuito de saber, por exemplo, o número do Palácio Rio Branco, além de ter que esperar a voz eletrônica terminar, as desinformadas telefonistas de outros distantes estados perguntam: “de que cidade?”. É simplesmente aviltante.
Quem pensa a Educação neste país vive dizendo que o fosso abissal existente entre a “academia” e a sociedade deve diminuir. A Ufac foi fundada nos anos 60. Só no Departamento de Ciências Sociais, desde 1995 existem pelo menos 100 teses acadêmicas de relevante interesse para o Acre, a Amazônia e o restante do país. Pergunto: alguém não envolvido no meio universitário conhece alguma dessas teses?
E a televisão aberta? Quando vão deixar de nivelar (por baixo) a programação local nos mesmos horários, com programas semelhantes em canais diferentes?
Por fim, para não ser muito chato e xiita, gostaria de saber quando essa “ruma” de ong´s vai começar a se insurgir contra os famigerados sacos plásticos e sugerir a reprodução de sacolas de papel, que já estão sendo largamente utilizadas pelos supermercados de outras grandes cidades? O inverno está aí e eles tendem a se proliferar cada vez mais. Vale a pena refletir sobre tudo isso...

Em busca de um novo mote

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Quando a Frente Popular começou a deter o poder político no Acre, opositores e analistas políticos preconizaram que, mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente, essa hegemonia tenderia a se esfacelar. Em Rio Branco, no âmbito da Câmara Municipal, apesar da esmagadora vitória da Frente Popular, esse processo já começou a se desencadear.
A Frente ganha em superioridade numérica (11 x 3), mas perde em representatividade. Sem desmerecer os eleitos, com alguma exceção, a próxima legislatura deve se caracterizar pela ausência dos representantes dos socialistas, ambientalistas, das mulheres engajadas, dos sindicatos, associações, enfim, dos movimentos sociais e de pessoas a eles relacionadas que possam exercer a verdadeira função social em defesa da sociedade civil, seja ela organizada ou não.
Lá, vai fazer falta um Germano, uma Maria Antonia, um Márcio Batista. O Cabide, depois de anos de tentativas e dos votos de protesto contra o poderio econômico de alguns candidatos, mostra a possibilidade de ascensão do sistema democrático, mas insufla no eleitor o receio de manipulação política e de retrocesso no avanço das forças progressistas.
Apesar de estarem sob o manto da “esquerda”, alguns dos eleitos neste pleito são, sub-reptciamente, defensores dos seculares interesses das elites. Parte deles ou chegou lá para defender interesses pessoais ou de grupo. Dentre os mais votados, estão os representantes das igrejas evangélicas que, cada vez mais, assumem postura menos religiosa que política.
O racha ideológico e a direitização da Frente, ao meu ver, é reflexo do inchaço, da assimilação de correntes pouco ortodoxas e de manobras internas. A eleição do Cabide é apenas o elemento mais frágil dessa história. A direita se infiltrando, de maneira simbiótica, na esquerda é que preocupa. Então, diante deste quadro, o que resta é a busca de um mote, de um novo paradigma que norteie os rumos do parlamento municipal e que não deixe no limbo da história os avanços da curta mas rica trajetória de conquistas democráticas e progressista do povo acreano.

O bar dos xaropes

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Perambulando pelo labirinto da minha consciência, dissertando acerca de temas que afligem a humanidade, subitamente surgiu a vontade de discorrer sobre minhas idiossincrasias, ou melhor, sobre o lugar-comum que freqüento, não sei se, esporádica ou habitualmente: o Bar do Bigode.
O paradoxo é que apesar de meus amigos chama-lo também de “Le moustache”, nem bigode ele ostenta mais. Só sei que o lugar é impar. Parece até que há um certo magnetismo, pelo menos para a macharada que anda por lá.
O point da Travessa Júlio César, na Cerâmica, não remete a nenhum coliseu romano, mas a um pequeno espaço que congrega, eu diria, o mais eclético refúgio dos notívagos acreanos. Lá freqüenta de um tudo! De “adevogados” a jornalistas, de empresários a fazendeiros, de funcionários públicos a intelectuais, de playboys do seringal a professores. Nunca vi um policial naquelas imediações, mas sei que, de vez em quando, aparece na área o “delegado” e um tal de “major”.
O bar do bigode é singular, mas seus freqüentadores ou andam no plural ou no diminutivo. Cê quer ver? É o Manelzinho, Caladinho, Sapatinho...
Lá, como na maioria das tribunas ou consultórios psiquiátricos do mundo, se busca resolver problemas existenciais de cada um e da humanidade. Por isso, o lugar é salutar! Presença feminina? Nem pensar! Só daquelas que são muito bem resolvidas ou têm peito e audácia suficientes para desfilar em frente aquele batalhão.
Mas, quando elas passam, o respeito é tamanho que as mais belas são aplaudidas e, detalhe, de pé! É o supra sumo da reverência! Não diria que é civilidade exacerbada, mas escassez mesmo e idolatria pelo sexo feminino, principalmente depois do terceiro copo.
Lá, a gente discute sexualidade, moralidade, a Lei Seca, a Lei Maria da Penha e, ultimamente, uma tal que foi criada em 1941 e que até hoje continua proibindo venda de bebidas a bêbados. Essa tem sido nosso mote preferido para encher a paciência do Bigode, um verdadeiro lorde que depois das onze esquece a diplomacia e expulsa todos daquela adorável esquina, seja rico, pobre, preto, bonito ou feio.
Aliás, para o Bigode todos são iguais e “xaropes”. É por isso que nós o amamos tanto. Saiba que, para entrar no seleto clube é preciso passar por uma triagem mais apurada que a do Iapen. Mas, se você estiver afinado e disposto a ver o mundo do melhor prisma destas plagas é só tentar. Resta saber se será admitido.
Como diria o professor Bosco, lá você pode viajar por todo o arco-íris ideológico da sociedade cristã-racional civilizada, baseado na lógica cartesiana. Mas, contrapondo-se ao diletantismo do professor, o Adal, outro xarope freqüentador do Bigode, diz que tudo isso não passa de pura “canecagem”.

Fechou a lanchonete que fechava para o almoço

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A Praça Plácido de Castro, ou Praça da Revolução (como queira), que estava meio insossa nos últimos tempos com o fim do Casarão, com a transferência da sede da prefeitura e com o fechamento parcial do Mira Shopping, ficou mais triste ainda nesta semana. Desde a última sexta-feira, o local, que num passado recente foi o centro nervoso do centro da cidade, perdeu a Lanchonete Sobral, uma das mais antigas e tradicionais de Rio Branco.
Pra quem não sabe, a lanchonete é aquela localizada no térreo do prédio da antiga prefeitura e que fazia parte do rico folclore acreano de que “prostituta tem orgasmo, taxista dá carona e restaurante fecha para o almoço”. É. É isso mesmo. Ela eventualmente fechava para que o dono, o quase octogenário Zé Aragão, fosse “comer algo diferente” em casa e fosse também curtir sua “siesta”.
Ao lado, na barbearia do Ziza, uma das poucas lembranças vivas do passado, o barbeiro-mor e os “habitués sont desolée”. Eles lamentam o fim do frisson naquela área feito por funcionários, desocupados, munícipes que iam resolver pendências junto à prefeitura e, principalmente, das memoráveis partidas de gamão entre o Zé Aragão e o “turco” Ibrahim Farhat.
Ali se falava de tudo, negociava-se quase de tudo. O lugar era o embrião das articulações políticas das eleições da época e até dos quatros anos seguintes. Todos participavam dos acirrados debates, menos o Zé Aragão que preferia usar suas enormes orelhas apenas como ouvido de mercador. Ele é sisudo, às vezes ríspido, mas, muito verdadeiro e amável. Ajudou muita gente, principalmente aos necessitados e famintos.
Depois de suportar a rotina de quase três décadas no mesmo lugar, ter enfrentado o humor de vários prefeitos e seus puxa-sacos, agora, Zé Aragão vai para casa. Vai para o descanso que todo velho guerreiro merece. Agora ele vai poder jogar seu gamão mais tranqüilo, fazer suas palavras-cruzadas com maior atenção e dedicar mais tempo à família. Para deixá-lo mais feliz, sugiro a quem for visitá-lo que leve um quibe de arroz ou uma saltenha de forno para que ele também possa rememorar seu rico, divertido e turbulento passado que agora se quebra fazendo com que a vida de Zé Aragão tome outro rumo.

Viva a civilidade!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Quando um país vive o “Céu de Brigadeiro” do Estado Democrático de Direito como o Brasil está vivendo agora, as instituições se tornam sólidas e respeitadas. Os novos ordenamentos jurídicos que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) vem instituindo com intuito de garantir o respeito às liberdades individuais neste ano eleitoral demonstram o quanto a sociedade brasileira está evoluindo.
As mudanças deixam o país que vivenciou o voto de cabresto na longínqua bruma do passado, apontam para a postura do voto consciente e induz a sociedade a trilhar caminhos diferentes na nova era em que vivemos. Para garantir o funcionamento harmônico do Estado e enquadrar, inclusive as autoridades políticas, o Tribunal baixou normas que estão dando nova roupagem e ar de civilidade às eleições deste ano. Muita baixaria que havia, já não existe mais.
Dentre outras medidas, de forma muito oportuna, a Corte Eleitoral acabou com os showmícios, com as poluentes pinturas nos muros e em camisetas, que serviam para dormir no pós-eleição, mas que beneficiavam somente as campanhas milionárias.
Temos que admitir que essas medidas civilizatórias deixaram a campanha mais tranqüila e o Brasil mais próximo do patamar dos países desenvolvidos, mas temos que ver também que essa tranqüilidade muito se deve ao baixo nível de acirramento que há entre as coligações que estão disputando o pleito. Esse fenômeno se repete em nível nacional e até internacional.
O respeito pelas normas da conduta eleitoral, por outro lado, está deixando a campanha monótona. As acusações continuam, mas, até o momento, os adversários ainda estão mantendo o respeito entre si. A sobriedade num povo de alma latina também cansa. Por isso, acho que militantes que morreram ou se afastaram ainda fazem falta no folclore das eleições acreanas. Falta o Ninja (Zé do Burro), o burro, ou melhor, o jumento do Edvaldo Guedes e a brabeza do Tomé Manteiga com seus eleitores, quando eles o chamavam pelo nome. A campanha ainda está morna, mas, certamente deve esquentar nos próximos dias. Como nos parlamentos ou tribunais, espero que a civilidade prevaleça!

Quem vai limpar o rio Acre e seu afluentes?

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Na semana passada, neste mesmo espaço, falei sobre a fedentina existente no canal que corta transversalmente a Avenida Getúlio Vargas, entre a antiga sede da PGE (Procuradoria Geral do Estado) e a Diocese de Rio Branco, que, de tão insuportável, altera a temperatura ambiente local e afeta, de forma direta e indireta, todos os cinco sentidos de quem mora, trabalha ou passa por lá.
Contrariando a máxima contida na frase de efeito do amigo do meu pai, Zé Laqüera, “A gente tem que gostar do que não presta, pois do que é bom todo mundo gosta”, me indignei mais, através do artigo, pelo fato de nunca ter visto ou ouvido ninguém protestar contra o tal esgoto.
Sem querer ser pretensioso, quando da minha insurgência, eu já tinha uma carta na manga, uma solução para aquele e outros problemas ambientais do nosso município. Estava apenas esperando alguém se manifestar.
Dias antes, participei, no Rio de Janeiro, do lançamento do Programa Petrobrás Ambiental, através do qual, a empresa, uma das maiores do mundo, se dispôs, voluntariamente, a investir, no período 2008/2012, a cifra de R$ 500 milhões em iniciativas que contribuam para a conservação e preservação dos recursos ambientais e à consolidação da consciência socioambiental brasileira.
Com o tema “Água e Clima, contribuições para o desenvolvimento sustentável”, o programa visa apoiar iniciativas capazes de reduzir os riscos de destruição de espécies e habitats aquáticos ameaçados, melhorar a qualidade dos corpos hídricos e contribuir para a fixação de carbono e emissões evitadas de gases causadores do efeito estufa.
Através deste programa, qualquer pessoa jurídica sem fins lucrativos, com atuação no Terceiro Setor, tais como associações, fundações, organizações não-governamentais, OSCIP´s (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) ou organizações sociais podem elaborar projetos, executá-los num período de 12 meses, renováveis por mais 12, e arrancar da Petrobrás até R$ 3,6 milhões, por período.
Divulguei a notícia, mas, até o momento, não vi ninguém se manifestar. Lá no Rio, fiquei pensando que essa oportunidade cairia como uma luva para abnegados e silenciosos defensores do rio Acre como os ambientalistas Claudemir Mesquita e Ibrahim Farhat, o Lhé, que, sem dinheiro e praticamente sem ajuda, vivem retirando balseiros e dejetos do rio.
Pensei também que, apesar de o investimento ser procedente de uma empresa estatal, ele poderia ir para o Terceiro Setor e, finalmente, tirar do Estado a responsabilidade, quase que exclusiva, com o meio ambiente do nosso município. Os projetos de recuperação do rio Acre, de seus afluentes e dos canais que desembocam nesses afluentes podem envolver muita gente e, inclusive, renda para essa gente. Ontem, técnicos da empresa chegaram ao Acre para anunciar, dentre outras novidades, que as inscrições para os projetos estarão abertas até o dia 24, através do site www.petrobras.com.br.

Boca do Inferno

terça-feira, 2 de setembro de 2008

O amigo do meu pai, Zé Laqüera, no alto da sabedoria de um velho nordestino, costume dizer que “é bom a gente aprender a gostar do que não presta, porque, o que é bom, todos gostam”. Nelson Rodrigues já dizia que toda unanimidade é burra e, também por isso, devo concordar com o sábio maranhense.
Penso que, por este princípio – de gostar do que não presta – é que as pessoas têm se acostumado tanto, e sem reclamar, com a fedentina que grassa em vários pontos da cidade. Existem inúmeros esgotos que nos deixam nauseabundo e, invariavelmente, sem apetite. Há o famoso Penicão (lagoa de decantação) do Conjunto Universitário, que depois de cinco anos de desativado bem que poderia estar dormindo como um vulcão; há também o Canal da Maternidade, que exala mau cheiro tanto durante o dia com o sol escaldante como nas noites enluaradas; e há o esgoto da Avenida Getúlio Vargas – entre a antiga Procuradoria do Estado e a boate Saudosa Maloca - que me incomoda particularmente, afinal passo por ele todo santo dia.
Esta minha rotina é antiga. Ao passar pela “boca do inferno” da Getúlio Vargas, para não sentir cheiro de coliformes fecais, enxofre, gás metano e outras imundícies, prendo, o tanto que posso, minha respiração. O fedor é tamanho que até a temperatura local se altera. Sinceramente, não sei como as pessoas que vivem e trabalham nas imediações suportam.
Sempre estranhei o fato de uma obra ter permanecido parada durante mais de 10 anos por ali. Pensei que fosse algum embargo ambiental. Depois de concluída, vi que o prédio erguido próximo à “boca do inferno”, ironicamente, era da Diocese de Rio Branco. Além dos padres e freiras, acho que todos que trabalham e congregam lá são verdadeiros santos.
Ao endossar a frase de efeito do Zé Laqüera, de que devemos acostumar com o que não presta, não quero ser tão radical, afinal, temos que ser flexíveis também. Suportar aquilo, de forma altruísta, é um ato de autocomiseração. Desculpe a imodéstia, mas ainda respiro o ar fresco, serrano e primeiro-mundista de Gramado (RS), onde estive recentemente.
Entendo que fazer saneamento básico na Amazônia, numa região que é uma grande planície, não é nada fácil. Mesmo assim, reconheço que muito se fez nos últimos anos por Rio Branco. Mas, com os recursos da ordem de R$ 400 milhões que o Governo Federal deve liberar até 2010 para as obras do PAC no Acre, acredito ser possível dar fim a este sofrimento não aparente, mas que é bastante sentido pela população.

Uma máquina que eu gosto

terça-feira, 15 de julho de 2008

Dia desses, sentado à beira de uma estrada, lá no final, onde as duas margens pareciam se encontrar, avistei algo em movimento, levantando poeira que parecia dar continuidade ao caminho, mas, mais volumoso e em outra direção. Pelo barulho em movimento desengonçado, sabia não se tratar de um carro, de um caminhão.

Aquilo me deixou apreensivo e curioso, mas, pouco depois, a “coisa” foi se aproximando, delineando, tomando forma. Pelos faróis suspensos que propagavam dois fachos de luz no meio da poeira, percebi que o objeto não identificado era, na realidade, uma máquina, mais precisamente, uma retro-escavadeira, uma das mais desgraciosas e, ao mesmo tempo, úteis máquinas inventadas pelo homem.

Coincidentemente, para meu deleite, o operador decidiu parar aquela desajeitada coisa num aterro que havia justamente ao meu lado. Como acontece desde menino, fiquei emocionado com a possibilidade de rever aquela máquina trabalhar. Primeiro, ela começou a abrir as sapatas em movimentos lentos e parecidos aos de uma aranha em posição de ataque quando arma suas patas.

De aranha ela pareceu se transformar num dragão enfurecido num momento em que começou acelerar e a soltar fumaça da descarga do teto. Elevada sobre si mesma e com sua principal pinça em operação jogando para ao lado e outro, agora ela lembrava um elefante com a tromba em movimento.

Com a lâmina ou com a pá, ela movia, virava, mexia, sumia com a terra e a fazia desaparecer sobre as caçambas dos caminhões. Em poucos minutos toda a superfície da área foi modificado. Ela, a retro é realmente mágica, fascinante.

Admiro muito o avião, o telefone, dois dos maiores inventos da humanidade, mas, assim como, Sergey, o roqueiro - pansexual - maluco – de - Saquarema adora fazer amor com as árvores, eu também adoro as máquinas, ou melhor, a retro-escavadeira.

Ela não pode ser, até o momento, o mais avançado protótipo da robótica, mas, indiscutivelmente, é um de seus precursores e um dos mais práticos e úteis instrumentos criados pela engenharia mecânica. Sociólogos e antropólogos costumam dizer que nos últimos cem anos a sociedade evoluiu mais que no restante de toda sua existência. Na era contemporânea, ou seja, no período em que as sociedades mais evoluíram, a retro se fez presente.

A economia e a religião são as molas propulsoras da humanidade. Por esses dois fatores, os povos entram em combate, vão à guerra. A retro-escavadeira ajudou na construção de templos, estradas, aquedutos, cidades e até na remarcação de fronteiras entre muitos países. O princípio de funcionamento da sapata da retro inspirou na engenharia dos mísseis antiaéreos, isso significa que ela também esteve na guerra.

A retro-escavadeira contribuiu, portanto, com a economia, a guerra e as religiões de diferentes nações. À retro-escavadeira eu rendo minhas homenagens, que este ano está completando cinqüenta anos de existência. Apesar da idade, a velhinha ainda continua ajudando a revolucionar o mundo.

Homenagem tem que ser na hora certa

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Em Sena Madureira vive frei Paolino Baldassari, a eterna e divina sentinela da floresta que, por seu profícuo trabalho já recebeu título de Doutor Honoris Causa e até indicação para o Prêmio Nobel da Paz. A luta voluntariosa do frei rendeu-lhe reconhecimento regional e nacional, mas, às margens do rio Iaco, também vive um outro sacerdote oriundi de Itália que há 57 anos também vem realizando um trabalho tão importante quanto o do seu irmão da Ordem dos Servos de Maria: Frei Heitor Turrini.
Por ser um intelectual reservado, poucos conhecem o trabalho de Frei Heitor. Juntos, eles têm anunciado o evangelho para os povos da floresta que residem numa área de 57 mil quilômetros quadrados, equivalente a dois estados de Sergipe.
Quando não está desenvolvendo trabalhos sociais nas matas, periferias das vilas e cidades, Frei Heitor Turrini gosta de permanecer na biblioteca do convento onde mora, rebuscando seus compêndios para aprimorar seus conhecimentos em 11 idiomas e para sedimentar, cada vez mais, sua fé cristã.
Fora do convento, ele imprime ritmo acelerado e aventureiro à vida para sobrepor-se às adversidades encontradas na selva amazônica. Apesar da idade (83 anos), o frei ainda pratica esqui, pilota moto e avião. Recentemente, o padre me confessou que já sofreu sete acidentes aéreos. Para ele, o mais triste foi o que aconteceu em Sena no ano de 1971, no qual morreram 33 pessoas. Dentre elas, o bispo Dom Giocondo Maria Grotti, que, na época, tinha apenas 41 anos de idade.
Heitor Turrini falou também sobre o posicionamento firme do papa Bento XVI, de seus diversos encontros com o papa João Paulo II, de suas viagens às Filipinas e a China, inclusive sobre a primeira delas, quando o mandatário era Mão Tse Tung, o grande líder responsável pela implantação da revolução cultural naquele país asiático.
Inspirado em suas reminiscências, o padre lembrou também da juventude na terra natal (Montese/Itália), onde viu brasileiros derrotar alemães durante a segunda Guerra Mundial, atrocidade que, há 63 anos ceifou 45 milhões de vidas. Depois que se radicou no Brasil, frei Heitor voltou algumas vezes à Itália, mas não para tratamento de saúde, como foi há dois meses. Penso que, pelo momento delicado, pelo trabalho altruísta e de dedicação, dirigentes governamentais e cristãos e a sociedade civil como um todo deveriam esquecer, temporariamente, as coroas laureadas do padre Paolino Baldassari e fazer justas homenagens ao frei Heitor Turrini, que dedicou a maior parte de sua vida à Amazônia e, principalmente, ao povo acreano. Ele é um dos homens mais culto, crente, simples e de bom caráter que conheci.

A devastação da Amazônia e do bom senso

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Cleber Borges
A Amazônia é marca mundial que tem semelhança somente com a Coca-Cola. São, sem dúvidas, as duas palavras mais pronunciadas no mundo. Com saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, a Amazônia ficou ainda mais evidência.
Marina representava o verdadeiro compromisso brasileiro de não destruição da Amazônia.
Carlos Minc, o sucessor, por ser uma figura relativamente desconhecida dentre os ambientalista, gerou desconfiança ao ponto de a comunidade internacional mostrar, sem o pudor, o interesse que vinha acaletando há tempos de internacionalizar a Amazônia.
Esse interesse escuso por uma nova geopolítica na região foi abordado, de forma acintosa, pelo jornal americano, The New York Times, e o inglês The Independent, o primeiro questionando de quem é a Amazônia, e o outro afirmando que esta parte do Brasil é muito importante para ser deixada apenas com os brasileiros.
Na internet veicula o site do Mapa do Brasil Visto por Alunos do EUA, que mostra um livro contendo o mapa do Brasil amputado, sem a Amazônia e o Pantanal. Pela informação, o livro estaria ensinando que a região e em volta dela vivem pessoas primitivas, sem inteligência, irresponsáveis e regidas pelo tráfico de drogas. O livro Introdução à Geografia, do autor David Norman, seria utilizado pela Júnior Higsschool.
De forma tímida e unilateral, a sociedade brasileira começa a reagir a essa agressão que, efetivamente, pode estar tomando forma. Não em nome da Nação, mas , como cidadão, na última edição do programa Canal Livre, o general Luiz Gonzaga Lessa falou, de forma consistente, que as acções das ONGs na floresta são o início de uma "invasão branca" e que há risco iminente das nações indígenas se atrelarem à países estrangeiros. "Hoje elas pertencem as Estado brasileiro, mas há uma trama internacional para que se tornem nações indígenas e depois deixem de ser propriedade do Estado". Discursando num clube em São Paulo, o general foi aplaudido, de pé, por mais de 700 pessoas.
Ironicamente, num comercial da Vale da Rio Doce, o saudoso sertanista brasileiro Orlando Vilas-Boas, pouco antes de morrer, já alertava para essa possibilidade.
Eu também presenciei atrocidades cometidas contra a Amazônia. Em 2005, em Itacoatiara (AM), às margens do Rio Amazonas, vi implacáveis motosserras de uma empresa multinacional suíça destruindo pau rosa de 30 metros de altura e máquinas skids com guinchos arrastadores puxando-as e destruindo a média e a pequena vegetação, mas tudo com o "selo verde", com o rótulo de "manejo florestal". Grave também foi ver o imponente porto do empresário e governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, exportando soja, através do Rio Amazonas. Mais grave ainda foi presenciar a usina termoelétgrica fornecendo energia para Itacoatiara,a segunda maior cidade do Amazonas, e sendo alimentada com o resto da madeira de lei que sobrava do tal "manejo". Tudo isso, em nome do "desenvolvimento sustentável". Penso que está havendo a devastação da Amazônia, mas também o bom senso daqueles que querem abocanhar o nosso quinhão.

Tá. E os outros?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Cleber Borges
2008, ano do centenário da imigração japonesa no Brasil. O governo e a sociedade brasileira vêm rendendo justas homenagens ao povo da Terra do Sol Nascente desde o ano passado, quando começaram a antever as comemorações. Eles merecem.
Afinal, fala-se muito da contribuição que índios e negros deram para o fantástico resultado da nossa miscigenação, mas há pouco ou quase nenhum reconhecimento pelo efeito do cruzamento deste nosso povo mestiço com os amarelos do Oriente. O belo e exótico resultado dessa união está estampado no rosto de milhões de nissei e sansei espalhados pelo Brasil afora.
Reverenciar os nipônicos é quase uma obrigação, afinal aonde esse povo chegou a harmonia e a sabedoria, conquistadas ao longo de milênios, também esteve e estão presentes. Eles são bons em tudo que fazem, principalmente quando atuam na informática, comércio, culinária e na agricultura.
Não precisamos ir ao bairro da Liberdade, em São Paulo, para ver o grau de desenvolvimento que os japoneses atingiram. Aqui no Quinari, desde que chegaram na década de 20 do século passado, eles vêm transformando adversidade em prosperidade. O amendoim que cultivam, até então uma leguminosa desconhecida na Amazônia, passou a ser produto de exportação e símbolo da qualidade dos alimentos no Acre.
As celebrações do centenário da imigração, amplamente divulgadas pela mídia, parecem ter aproximado mais o povo brasileiro do japonês, que, por natureza, é fechado. A maioria ignária, já sabe até que o nome do navio que trouxe a primeira leva de 781 pessoas era Kasato Maru, que eles chegaram no dia 17 de junho de 1908, etc. As homenagens estão sendo feitas não apenas pelo fato de o japonês ser bom, mas também por eles serem bem sucedidos, por eles pertencerem a um país que hoje é uma das maiores economias do mundo, enfim, por eles serem ricos. Então questiono: você leitor, sabe qual o nome do primeiro navio negreiro, quando os primeiros africanos escravos chegaram ao Brasil?
Talvez não. Sabemos apenas que coube à Inglaterra, a primazia de ser a vanguardeira do tráfico e do comércio de escravos, começado no reinado da Rainha Elizabeth no século XVI, tendo John Hawkins como o primeiro a empreender o comércio de negros escravos para o Brasil. Por este motivo, na época, ele recebeu o titulo de Baronnet.
A escravização do povo brasileiro começou nesse período pelos ingleses, passou para os portugueses, voltou para as mãos dos ingleses e agora está nas mãos dos norte-americanos, sob a forma de dependência econômica. O ideal seria é não estar sob o jugo de nenhuma potência, mas, se fosse o caso, preferiria estar nas mãos dos japoneses.

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